Antes de se deitar, na soleira ao luar, sentado a cismar, com a humanidade cada vez mais longe da verdade, o homem da harmónica ouvia a banda de música ao longe a tocar. Os músicos, já cansados davam os últimos acordes na noitada da festa da Senhora do Pilar.
Enquanto tudo isto acontecia, a filha da Luzia, dentro da carvalha oca, amava e sorria. Do moço que descia a colina e só ela conhecia, apenas as costas do casaco se via. Nesse mesmo instante, na casa de pedra, da figueira grande, o relógio biológico tocava sem parar, era tempo de nascer, sair da cuba da mãe vir respirar outro ar. Os animais que por lá moravam, alguns roedores que se embrenhavam, mesmo o galo que na alvorada deveria cantar. Poder-se-ia jurar, estavam todos tristes, com vontade de chorar.
Com sangue por todo o lado, não houve volta a dar, nasceram os pés primeiro, já estava pronta a andar. Não fosse o anjo da guarda estar ao lado e a micas parteira ajudado, bem teria definhado. De tanto estrebuchar, o pequeno órgão pulsante ficou fendido, difícil de afinar. Depois do susto passar o médico assistente tiveram que chamar. Só ele poderia dizer o que se iria passar. O veredicto foi dito. Poderia trabalhar, estudar, andar, até cantar.” Enquanto viver, deverá comer legumes para se fortalecer. Ao se distrair, o vírus poderá atacar e o relógio parar.”
Vivia atormentada sem saber o que fazer, comer tanta fava e ervilha transtornava-lhe o viver. Só biju ou pão de ovelhinha gostava de tragar, o de milho ficava na boca numa bola de brincar. A mãe, embirrou com isso. Para a assustar e melhor a dominar levou-a a ver a criança, que ia a enterrar. Se tivesse morrido, pensava num gemido, não a teriam aborrecido, nem o seu orgulho teria sido ferido.
As árvores, em tom exaltado, gritaram por todo o lado, disseram que não. Isso não era nada. Iriam transforma-la numa fada. Seria feliz para sempre com um novo coração.
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