domingo, 16 de setembro de 2012

Monte Longo V

Monte Longo estava frente aos destroços cansado de tanto avaliar, lamentando os estragos que o furacão deixara ao passar.
Por outro lado, talvez não, muita coisa não funcionava, estava a precisar de manutenção. Abriu a torneira, lavou as mãos, o rosto no espelho olhou com emoção. Sentindo o precioso líquido a escorregar, sentiu gratidão por bem tão precioso poder desfrutar.
Tinha conhecido o povo beduíno de raspão. Um ancião lhe contou da sua disposição de não querer nada de nada, viviam da pastorícia e moviam-se à procura de água, sua grande consolação. Depois de se mirar, saiu porta fora para apanhar ar, levantou os olhos ficou a olhar, o carreirão de estrelas que lhe fez lembrar o que a avó dizia nas noites de luar. Com o dedo indicador, ela apontava no céu um carreirão de estrelas de grande esplendor. “ Ali está o caminho de Santiago que leva a nosso Senhor, quem não o percorrer em vida terá de segui-lo na morte mas depois vai ter mais dor”. 
Depois de ter olhado as estrelas saiu dali ensonado com os olhos cansados e já bastante pesados.

Ao outro dia, ao acordar, lembrou-se de ter sonhado com anjos no céu na estrada de Santiago a passear. Alguns sentados nas bermas estavam a descansar. Mais à frente, um anjo viajante com olhar sereno prendeu-lhe o olhar, disse-lhe que tinha algo a lhe revelar. Queria falar sobre a viajem algures pendurada no tempo que lhe estava a preparar. A voz amena o olhar primaveril falou-lhe da terra onde deviam ir. Lá, as sardinheiras, as rosas nas janelas, à porta das casas, de vermelho forte, são muito vistosas. Os anciãos por traz das vidraças sorriem, acenam aos transeuntes que sozinhos ou em grupos, alegres percorrem as ruas e praças. Monte Longo, ainda a sonhar, por cima duma nuvem estava à janela a observar um anjo de grande beleza que vinha ao longe a apregoar. “Desviem-se das flechas que podem envenenar!” Para melhor escutar, debruçou-se na janela fez-lhe sinal com o braço para se aproximar. Tinha que pedir conselho, queria-lhe perguntar de onde vinham as flechas, queria se desviar. O anjo se abeirou, sua forma lhe mostrou. Trazia no semblante uma mensagem brilhante. Na mão trazia um rolo de letras resplandecentes desenhadas com fulgor, fruto de punho divino, uma mensagem de amor. Olhou devagar as letras, uma a uma as decifrou, sua vida, não dependia disso, o coração sossegou. O anjo não se demorou, guardou na sacola a folha, tinha muito que fazer, mostrar ao povo terreno a estrada que conduz ao fogo divino que a todos seduz. Depois de acordar Monte Longo sentou-se junto da cama a pensar, queria muito entender o que o anjo na saudação final lhe queria revelar. Tinha certeza, o gesto fora de aviso para se precaver. A flecha azul, que cruzou o ar ao anoitecer quem a poderia mandar só para sobreviver? Talvez a cobra verde água, que ferra qualquer calcanhar só para poder vencer. Não foram precisos muitos dias, a profecia divina se viria a confirmar. A maldade humana que tudo profana, gosta de atrapalhar, não olha a meios para seus intentos alcançar. Monte Longo, aborrecido com a comunidade que gosta de bisbilhotar, parou, olhou, escutou o pequeno órgão que foi criado para amar, apesar de ferido ainda se encontrava a trabalhar. Não podia deixá-lo sozinho, com todas as suas forças teria que o ajudar. Vida protegida com Luz e Paz tentar conquistar.  Abrir as portas do Céu, para assim o Criador a quem tanto amam, muitas bênçãos lhes poder enviar. Ámen

Filomena Magalhães