domingo, 28 de outubro de 2012

Sons de Outono


 

“Sons de Outono” no Club Fafense
Todos sabemos que as escolas de música são uma mais-valia na vida das comunidades onde se inserem. Com o objectivo de promover a cultura transmitida através da arte dos sons e a sua divulgação para lá dos muros da escola, realizou-se o concerto "Sons de Outono" da classe de flauta transversal do professor João Ferreira, da ArtMusic— Berço da Cultura da Lixa, na sexta-feira dia 26 de Outubro, pelas 21.30, no Club Fafense. No concerto foi interpretado um conjunto de obras para quarteto de flautas, de vários períodos da história da música, algumas com o acompanhamento de duas guitarras.
A sala esteve cheia para acolher este concerto outonal, o que proporcionou contentamento à organização, salientando-se também que a população fafense começa a criar hábitos musicais muito saudáveis.





F M

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Gratidão


Depois do verão, colheram-se as uvas, o milho e o feijão, folhas em tons castanhos e amarelo cobrem o chão. As árvores de folha caduca até à primavera ficam a esperar, os ramos das outras, durante o inverno o frio e o vento terão que aguentar. No doce outono, crianças e adolescentes, depois de várias semanas a descansar, vão cheios de alegria, à livraria, comprar livros, cadernos e lápis para à escola regressar.

Foi num outono assim, com o céu nuns dias a sorrir, noutros a chover, que um governante sonhou com as gerações que não tiveram muito tempo para aprender. No sonho o governante sofria bastante, pois, queria ver o seu povo mais instruído e tolerante. Ao acordar, com os seus colaboradores, a ideia foi compartilhar, começou a trabalhar, para resolver de que forma o seu sonho iria realizar. Depois de tudo analisar, resolveu dar nova oportunidade aos que quisessem estudar. Libertar da escuridão, os que queriam e não puderam receber instrução, em tempos que já lá vão. Logo que o muro atravessou, o sonho não se dissipou, pelas ruas viajou, nas escolas e casas do seu povo entrou, outros sonhos provocou, nas cabeças como raio de luz poisou e muitos corações alegrou.
Monte Longo, ao verificar que o sonho do governante a vida da sua amiga veio alegrar, foi empurrado ao passado e deu consigo a pensar na menina que consigo andou a brincar, na encosta do monte, onde se ouviam as rolas a cantar e as rãs na fonte a berrar. Certo dia ao escurecer estavam os dois a conversar quando ela se lembrou de dizer que não lhe apetecia crescer, para não ter que ir para a tecelagem tecer. Nessa altura não soube o que lhe dizer, ficou só a ver, os seus olhos nos dela a entristecer,  sentindo o coração a doer, ele que gostava tanto dela e a viu crescer. Lembrava-se agora que para esquecer, os dois desciam a correr,  ouvindo atrás deles os degraus a ranger. Chegados à loja, parecia-lhes ver, na parede por entre as teias de aranha que não paravam de crescer, o caixão rodeado de velas a arder, do morto que no regresso da escola tinham ido ver. Iam ao pipo tirar água-pé, pegavam na lenha, para fazer o café,  sentindo o frio nas costas a arrepiar, subiam, deixando cair o alçapão com forte estrupidar. Depois do perigo passar, atiravam uma gargalhada pelo ar, correndo para cozinha, onde a mãe os estava a esperar. Monte Longo, de tanto que com ela andou a brincar, nos eidos, nos sobrados, nos limpadores e nos lagares, ou deitados no chão a cheirar o sabão no soalho acabado de esfregar, passou a conhecer-lhe o jeito e o andar. Agora, não tinha coragem de se aproximar, pensando nas dificuldades que ela teve que atravessar. Gostava de a imaginar, a tomar café,  fazendo de tudo para se apressar,   descendo as escadas a saltitar. Depois de tanta atribulação, Monte Longo chegou a uma conclusão, as lembranças da sua amiga e das casas por onde passaram,  ficarão para sempre no seu coração.
Filomena Magalhães

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Monte Longo VI


 Certo dia ao acordar Monte Longo gostou de ler o que se tinha escrito sobre a rapariga X e o rapaz Y do outro lado mar. O que entendeu, daquilo que leu, foi que o casal num dia igual a outro qualquer foi possuído por um súbito desejo de aventura, um constante bem-me-quer. Para o momento prolongar, resolveram voltar atrás no tempo, embarcar numa máquina que um velho sábio tinha acabado de inventar. Inspirados pelos romances antigos, escolheram como destino ideal a Idade Média, local que há muito desejavam visitar. A viagem já tinha partida com data marcada, teria início de madrugada, quando o relógio da torre da Igreja batesse as três baladas. Seria efectuada num curto espaço de tempo, mas tudo teria de ser maravilhoso e intenso. O rapaz para seu bem alegrar, pensava percorrer a praia, contratar alguns piratas que soubessem bem tocar, outros fariam parte do coro, mesmo a desafinar. No final do serão, ela com os olhos brilhantes de tanta emoção, antes de abrir a porta apareceria à janela a corresponder a toda a paixão. Os dois iriam percorrer trilhos fazer caminhadas, pelos campos verdejantes e colinas escarpadas Ao fim do dia, já cansados de andar, sentados debaixo dos carvalhos, no cimo da colina iriam descansar. No horizonte o sol a descer, a água do mar a brilhar, as gaivotas junto aos mastros a cantar, uma nuvem divina envolta em amor e paz ao longe estavam a avistar, tornando especial aquele lugar.
Pioneiro, um pouco imprudente, o rapaz apoiava as boas causas, era impulsivo mas valente. A rapariga era dúvida, ponderação, alguns pontos de interrogação, deslumbrava-se com o coro que ouvia dentro do coração. Durante o caminho, passou muito tempo a conversar com a alma do mundo, a ouvir o que tinha a lhe revelar. Quando chegou ao local indicado, o botão já tinha sido accionado, o moço já tinha embarcado. A rapariga ficou algum tempo a esperar, na esperança da máquina regressar.  Fruto da Criação, junto dos que lá estão, ficaram em comunhão, os pés, as mãos, os sentidos e a razão, bem junto ao coração.
F. M.