Devo dizer, que conheço bastante mal o Sr. Monte Longo. As poucas vezes que o vi, quase sempre estava de costas ou perfil. Poucos o conhecem, devido a ser um individuo versátil e inconstante com forte personalidade. Quem o conhece de perto e tem por ele afeição costuma dizer que os seus hábitos mudam conforme a disposição. Alguma coragem, ousadia e bondade, fazem dele um ser único e muito amado. Convívios, tertúlias, longas ausências fazem parte da sua forma de estar. Gosta do campo onde cresceu e se sente muito à vontade, mas, considera-se fafense de corpo e alma e um homem da cidade. Uma das vezes que o avistei o Sr. Monte Longo descia a arcada ligeiro cumprimentando os transeuntes, num gesto muito apressado. Outra vez um feirante indicou-me a sua presença na feira junto ao mercado. Nesse dia, junto do vendedor de loteria estava um pouco descuidado os suspensórios puxavam as calças para cima, o boné já desbotado dava-lhe um puro charme de homem desajeitado.
“Aquele ali, é o Sr. Monte Longo, um romântico inveterado, poeta, trovador, conquistador” Dizia o vendedor.
” As injustiças deixam-no triste e desolado. Fica com ar indefeso de menino agitado. Conhece festas e guerras por onde tem viajado. É grande amante das artes, com muitos conhecimentos poucos conseguem iguala-lo. As feiras e romarias da nossa terra não lhe são indiferentes. Ele ama-os de mais, fica de lado a escuta-los, a ouvir as modas todas com os olhos embaçados. Mesmo sendo generoso e cordial com todos, há quem diga que por vezes se torna um não sei quê de insolente com a alma revoltada e a crítica afiada. Passa de amoroso a prepotente com tamanha rapidez que surpreende os seus convivas mesmo os mais inteligentes.”
Da última vez que avistei, o Sr. Monte Longo notei-lhe uma certa dualidade. O cabelo ao vento dava-lhe um ar de candura de cupido emancipado. Visto assim daquele lugar, mostrava algum cansaço de tanto sonhar e lutar. Trazia nos olhos as marcas de ter atravessado desertos secos e escarpados, na esperança de alcançar a luz verde dos oásis.
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