quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Horizonte de Liberdade


Numa tarde em que o sol teimava em não se mostrar, Monte Longo atravessou a cidade para visitar as mulheres que sonham em se libertar.
Encostadas à parede, que as estava a amparar, com sorrisos de luar, raios de luz no coração a brilhar, ou lágrimas de mar, lá estavam elas de olhos postos no céu a esperar.
As que na velhice vivem a sabedoria da idade, cheias de graciosidade mostravam em gestos de piedade o caminho, aquela que ainda na flor da idade, tudo quer viver e pouco sabe.
As de meia-idade, com alguma maturidade, por entre as brumas, vislumbravam da janela, junto ao umbral da porta da herdade, uma figura angelical e bela, onde vive a grande comunidade, que seguiu pelos caminhos que conduzem à liberdade.

Uma vez no quarteirão, Monte Longo resolveu nesse mesmo dia visitar o casarão, que viveu durante muito tempo na sua imaginação, onde também estava patente a exposição.

Já no primeiro andar, chegou-se à janela, estendeu o olhar para o sítio onde em tempos se costumava sentar, perto do pomar, que na primavera se enchia de margaridas por entre as ervas verdes a espreitar. Carregadas de flores, com os frutos nas entranhas a germinar, as árvores, estendiam os ramos para vespas, borboletas se poisar. De volta ao interior, influenciado pela beleza das obras de arte que se encontravam ao seu redor, em silêncio entoou, um pequeno hino de louvor. Deus do Universo, que criaste as flores do pomar, a chuva para as refrescar, o sol que as vem alimentar, sinto-me grato por tudo que me é dado presenciar, aqui, ou em qualquer outro lugar.

A rapariga que estava mais ao perto a observar, deixou cair uma lágrima pela tela a rolar. Logo transformada em leve brisa, a lágrima ao se evaporar, entrou pelas narinas, nos corações se foi instalar. Sensibilizadas, por essa onda amistosa que andava pelo ar, as figuras na parede a representar, foram ganhando vida, aos poucos, saíram do seu lugar, vieram-no abraçar.

 Quando a galeria estava a abandonar, Monte Longo lembrou-se de um certo dia em que andava a passear, ter subido as escadas para confirmar se as salas eram tão grandes como as costumava imaginar, antes do progresso chegar e o casarão um dos seus membros ter que retirar para os carros poderem circular. No cimo das escadas a contemplar a clarabóia que ainda se encontrava no mesmo lugar, por instantes, sentiu a escola regressar, no fundo da alma pareceu-lhe ouvir a voz da professora a ralhar. “Aí vêm as parvinhas, têm sempre que se atrasar”. Falava assim, para humilhar as raparigas que estavam a chegar todas encharcadas, já cansadas de caminhar. Secretos mistérios da pedagogia ainda tinham que aturar, depois de levar com a esgravanada e ver o guarda-chuva ir pelo ar. Depois de constatar que o tamanho das salas ficava aquém do que gostava de recordar, com um leve sorriso no olhar disse para os seus botões quando as escadas de granito estava atravessar: Ai a memoria dos sentidos, como nossos sonhos gosta de enganar!

 

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