Numa tarde em que o sol teimava em não se mostrar, Monte Longo atravessou a cidade para visitar as mulheres que sonham em se libertar.
Encostadas à parede, que as estava a amparar, com sorrisos de luar, raios de luz no coração a brilhar, ou lágrimas de mar, lá estavam elas de olhos postos no céu a esperar.
As que na velhice vivem a sabedoria da idade, cheias de graciosidade mostravam em gestos de piedade o caminho, aquela que ainda na flor da idade, tudo quer viver e pouco sabe.
As de meia-idade, com alguma maturidade, por entre as brumas, vislumbravam da janela, junto ao umbral da porta da herdade, uma figura angelical e bela, onde vive a grande comunidade, que seguiu pelos caminhos que conduzem à liberdade.
Uma vez no quarteirão, Monte Longo resolveu nesse mesmo dia visitar o casarão, que viveu durante muito tempo na sua imaginação, onde também estava patente a exposição.
Já no
primeiro andar, chegou-se à janela, estendeu o olhar para o sítio onde em
tempos se costumava sentar, perto do pomar, que na primavera se enchia de
margaridas por entre as ervas verdes a espreitar. Carregadas de flores, com os
frutos nas entranhas a germinar, as árvores, estendiam os ramos para vespas, borboletas
se poisar. De volta ao interior, influenciado pela beleza das obras de arte que
se encontravam ao seu redor, em silêncio entoou, um pequeno hino de louvor.
Deus do Universo, que criaste as flores do pomar, a chuva para as refrescar, o
sol que as vem alimentar, sinto-me grato por tudo que me é dado presenciar, aqui,
ou em qualquer outro lugar.
A rapariga
que estava mais ao perto a observar, deixou cair uma lágrima pela tela a rolar.
Logo transformada em leve brisa, a lágrima ao se evaporar, entrou pelas narinas,
nos corações se foi instalar. Sensibilizadas, por essa onda amistosa que andava
pelo ar, as figuras na parede a representar, foram ganhando vida, aos poucos, saíram
do seu lugar, vieram-no abraçar.
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