Costumava lá voltar, simplesmente para espreitar a pequena pastora ao longe no tempo, atrás do pequeno rebanho que tinha a seu cargo para guardar. Nesse dia em que a chuva tinha caído todo o dia sem parar, chegou a casa toda molhada com um frio de rachar, trazendo no coração o mesmo sentimento de sempre, de que tanto a pastora quanto ela não precisavam de muito para se alegrar. Acabava de se trocar, quando sentiu que alguém da sua humilde casa se estava aproximar. Não abriu logo a porta receando que pudesse ser o lobo que durante a noite se ouvira na floresta a uivar. Resolveu primeiro espreitar. Ao limpar a janela onde o fumo da lareira se tinha vindo acumular, reparou que um viajante que pela galáxia andava a passear, envolto na neblina já se começava a afastar. Correu para a porta com quantas forças podia a gritar. Hei viajante, chega aqui por um instante, preciso de saber notícias do mundo distante. O seu chamado não serviu para nada, o que obteve foi o silêncio daquele dia cinzento em que tudo se tinha resguardado com medo da trovoada. Já se preparava para entrar quando reparou em algo ao fundo das escadas que lhe prendeu o olhar. Com o espírito que gostava de surpresas contente a cantar, desceu os degraus para verificar o pequeno embrulho que se encontrava junto ao cancelo reluzente a brilhar. Àquela hora, naquele lugar, só mesmo o viajante o poderia ter deixado lá ficar! Quando o papel do embrulho estava a retirar, qual não foi o seu espanto ao verificar que se tratava da pequena caixa de música que estava agora com as mãos a segurar. Nessa noite antes de se deitar,ficou perto da janela, a ver a lua por detrás das nuvens a espreitar. Com os olhos fitos na boneca dentro da caixa a rodopiar, deu corda as vezes precisas para ouvir a doce melodia até a alma se fartar. Depois adormeceu e sonhou com o viajante, cujo rosto não conseguia decifrar só se percebia de homem se tratar. Assim dormiu naquele pesar, até chegar a manhã com raios de sol a iluminar, onde tudo ficou claro e o pesadelo não mais a pode incomodar. Entretanto o viajante que entre o céu e a terra em algum lugar deveria andar, do comportamento estranho que tivera, nunca se iria livrar. Com a festa das luzes a se aproximar, os pinheirinhos por todo lado com suas luzinhas multicolores a piscar, ainda antes de Jesus Menino nascer, iria pedir ao Pai Natal para lhe dizer que não deveria voltar, não o queria mais ver. Não sabia bem porquê, mas nas últimas horas algo lhe estava a dizer, dos perigos que corria com os caminhos alagados pela invernia, neste bosque onde o sol raramente se via.
Foto e texto Filomena Magalhães
Sem comentários:
Enviar um comentário