Nessa noite de Natal, a família que à volta da mesa de Consoada se tinha reunido, já algum tempo a seus aposentos
se havia recolhido. Só o médico, a quem o sono teimava em não pegar, andava
pelos corredores da casa de um lado ao outro a meditar, pensando nos doentes
que tinha a seu cargo para tratar, sem ter um hospital, onde os pudesse
abrigar. A noite avançava devagar, quando já cansado, parou junto à janela
desviando o cortinado para espreitar, a estrela que na noite de Natal leva
muitos a olhar o céu na esperança de encontrar. Sentia o ar a sair pelas
narinas para logo de seguida na vidraça se projectar, quando aos poucos foi
sentindo uma ideia nova a chegar, levando o seu semblante tristonho já desde a
hora do jantar, se voltasse novamente a iluminar. A ideia, ao se instalar,
correu para junto do coração onde de mansinho começou a sussurrar. “Pede ajuda
a teu filho que vive do outro lado do mar, a quem os negócios têm corrido bem e
se tem visto prosperar. Ele não te vai dizer que não! Com toda a certeza te irá
ajudar!” Sentindo que aquela ideia o estava a animar, foi ao escritório, para
anotar, antes que porventura se pudesse extraviar. De seguida deitou-se na
cama, deixando-se levar pelo sono que entretanto acabara por chegar. Na manhã
seguinte, ao acordar, depois de se arranjar, antes de aos convivas se juntar,
meteu a ideia na algibeira, dirigindo-se ao jardim, à luz clara da manhã a
queria analisar. Sentado num banco, com o sol por entre as folhas da japoneira
a espreitar, ficou largo tempo a imaginar o novo hospital já a laborar, até
que, a voz da esposa, da janela se ouviu chamar, a dizer que viesse, o almoço
de Natal já estava a esperar. Levantou-se devagar, mas, antes do jardim
abandonar, parou por instantes. Ali, naquele lugar, jurou a si mesmo, aquela
ideia fortemente abraçar. Em tempo oportuno, a faria a seu filho chegar, que
ficaria muito feliz por poder colaborar.
Depois de esse dia passar, o nosso médico pode constatar que
a ideia não o andara a enganar, a ajuda depressa começou a chegar, das terras
brasileiras de além-mar, e as obras poderiam começar. Entretanto, muita
diligência houve a tratar, muito teriam que trabalhar, até ao dia em que no
novo hospital se pudessem instalar. Mas, nunca em momento algum, passou pela
cabeça à comissão de obras que entretanto se tinha vindo a formar, abandonar o
projecto de concluir o hospital, para a população de Fafe ajudar. Dizem, que
quando as obras do hospital estavam prestes acabar, vieram todos em grande
pompa para o inaugurar. Alguns foram a Lisboa a El-Rei buscar a carta de foral
para a obra coroar. Depois, com as instalações a funcionar, com médicos,
pessoal auxiliar, foi arregaçar as mangas para cuidar dos velhinhos, dos
doentes e das meninas sem lar. Convidaram a confraria da Senhora da Misericórdia,
para administrar. Com novas condições para trabalhar, mais facilmente poderiam
praticar as catorze Obras de Misericórdia que Jesus Cristo na sua passagem pelo
mundo tinha andado a ensinar.
Em tempo de celebrar, foi esta a história de amor que trouxe
para contar.
FELIZ NATAL
Foto e texto filomena magalhães
Sem comentários:
Enviar um comentário