quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Feliz Natal


 Nessa noite de Natal, a família que à volta da mesa de Consoada se tinha reunido, já algum tempo a seus aposentos se havia recolhido. Só o médico, a quem o sono teimava em não pegar, andava pelos corredores da casa de um lado ao outro a meditar, pensando nos doentes que tinha a seu cargo para tratar, sem ter um hospital, onde os pudesse abrigar. A noite avançava devagar, quando já cansado, parou junto à janela desviando o cortinado para espreitar, a estrela que na noite de Natal leva muitos a olhar o céu na esperança de encontrar. Sentia o ar a sair pelas narinas para logo de seguida na vidraça se projectar, quando aos poucos foi sentindo uma ideia nova a chegar, levando o seu semblante tristonho já desde a hora do jantar, se voltasse novamente a iluminar. A ideia, ao se instalar, correu para junto do coração onde de mansinho começou a sussurrar. “Pede ajuda a teu filho que vive do outro lado do mar, a quem os negócios têm corrido bem e se tem visto prosperar. Ele não te vai dizer que não! Com toda a certeza te irá ajudar!” Sentindo que aquela ideia o estava a animar, foi ao escritório, para anotar, antes que porventura se pudesse extraviar. De seguida deitou-se na cama, deixando-se levar pelo sono que entretanto acabara por chegar. Na manhã seguinte, ao acordar, depois de se arranjar, antes de aos convivas se juntar, meteu a ideia na algibeira, dirigindo-se ao jardim, à luz clara da manhã a queria analisar. Sentado num banco, com o sol por entre as folhas da japoneira a espreitar, ficou largo tempo a imaginar o novo hospital já a laborar, até que, a voz da esposa, da janela se ouviu chamar, a dizer que viesse, o almoço de Natal já estava a esperar. Levantou-se devagar, mas, antes do jardim abandonar, parou por instantes. Ali, naquele lugar, jurou a si mesmo, aquela ideia fortemente abraçar. Em tempo oportuno, a faria a seu filho chegar, que ficaria muito feliz por poder colaborar.
Depois de esse dia passar, o nosso médico pode constatar que a ideia não o andara a enganar, a ajuda depressa começou a chegar, das terras brasileiras de além-mar, e as obras poderiam começar. Entretanto, muita diligência houve a tratar, muito teriam que trabalhar, até ao dia em que no novo hospital se pudessem instalar. Mas, nunca em momento algum, passou pela cabeça à comissão de obras que entretanto se tinha vindo a formar, abandonar o projecto de concluir o hospital, para a população de Fafe ajudar. Dizem, que quando as obras do hospital estavam prestes acabar, vieram todos em grande pompa para o inaugurar. Alguns foram a Lisboa a El-Rei buscar a carta de foral para a obra coroar. Depois, com as instalações a funcionar, com médicos, pessoal auxiliar, foi arregaçar as mangas para cuidar dos velhinhos, dos doentes e das meninas sem lar. Convidaram a confraria da Senhora da Misericórdia, para administrar. Com novas condições para trabalhar, mais facilmente poderiam praticar as catorze Obras de Misericórdia que Jesus Cristo na sua passagem pelo mundo tinha andado a ensinar.

Em tempo de celebrar, foi esta a história de amor que trouxe para contar.
FELIZ NATAL
Foto e texto filomena magalhães

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