Depois do verão, colheram-se as uvas, o milho e o feijão, folhas em tons castanhos e amarelo cobrem o chão. As árvores de folha caduca até à primavera ficam a esperar, os ramos das outras, durante o inverno o frio e o vento terão que aguentar. No doce outono, crianças e adolescentes, depois de várias semanas a descansar, vão cheios de alegria, à livraria, comprar livros, cadernos e lápis para à escola regressar.
Foi num outono assim, com o céu nuns dias a sorrir, noutros
a chover, que um governante sonhou com as gerações que não tiveram muito tempo
para aprender. No sonho o governante sofria bastante, pois, queria ver o seu povo mais
instruído e tolerante. Ao acordar, com os seus colaboradores, a ideia foi
compartilhar, começou a trabalhar, para resolver de que forma o seu sonho iria
realizar. Depois de tudo analisar, resolveu dar nova oportunidade aos que
quisessem estudar. Libertar da escuridão, os que queriam e não puderam receber
instrução, em tempos que já lá vão. Logo que o muro atravessou, o sonho não se
dissipou, pelas ruas viajou, nas escolas e casas do seu povo entrou, outros
sonhos provocou, nas cabeças como raio de luz poisou e muitos corações alegrou.
Monte Longo, ao
verificar que o sonho do governante a vida da sua amiga veio alegrar, foi
empurrado ao passado e deu consigo a pensar na menina que consigo andou a
brincar, na encosta do monte, onde se ouviam
as rolas a cantar e as rãs na fonte a berrar. Certo dia ao escurecer estavam os
dois a conversar quando ela se lembrou de dizer que não lhe apetecia crescer,
para não ter que ir para a tecelagem tecer. Nessa altura não soube o que lhe dizer,
ficou só a ver, os seus olhos nos dela a entristecer, sentindo o coração a doer, ele que gostava
tanto dela e a viu crescer. Lembrava-se agora que para esquecer, os dois
desciam a correr, ouvindo atrás deles os degraus a ranger. Chegados
à loja, parecia-lhes ver, na parede por entre as teias de aranha que não
paravam de crescer, o caixão rodeado de velas a arder, do morto que no regresso
da escola tinham ido ver. Iam ao pipo tirar água-pé, pegavam na lenha, para
fazer o café, sentindo o frio nas costas
a arrepiar, subiam, deixando cair o alçapão com forte estrupidar. Depois do
perigo passar, atiravam uma gargalhada pelo ar, correndo para cozinha, onde a
mãe os estava a esperar. Monte Longo, de tanto que com ela andou a brincar, nos
eidos, nos sobrados, nos limpadores e nos lagares, ou deitados no chão a
cheirar o sabão no soalho acabado de esfregar, passou a conhecer-lhe o jeito e
o andar. Agora, não tinha coragem de se aproximar, pensando nas dificuldades
que ela teve que atravessar. Gostava de a imaginar, a tomar café, fazendo de tudo para se apressar, descendo as escadas a saltitar. Depois de
tanta atribulação, Monte Longo chegou a uma conclusão, as lembranças da sua
amiga e das casas por onde passaram,
ficarão para sempre no seu coração.
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