Certo dia ao acordar
Monte Longo gostou de ler o que se tinha escrito sobre a rapariga X e o rapaz Y
do outro lado mar. O que entendeu, daquilo que leu, foi que o casal num dia
igual a outro qualquer foi possuído por um súbito desejo de aventura, um
constante bem-me-quer. Para o momento prolongar, resolveram voltar atrás no tempo,
embarcar numa máquina que um velho sábio tinha acabado de inventar. Inspirados
pelos romances antigos, escolheram como destino ideal a Idade Média, local que há
muito desejavam visitar. A viagem já tinha partida com data marcada, teria
início de madrugada, quando o relógio da torre da Igreja batesse as três
baladas. Seria efectuada num curto espaço de tempo, mas tudo teria de ser
maravilhoso e intenso. O rapaz para seu bem alegrar, pensava percorrer a praia,
contratar alguns piratas que soubessem bem tocar, outros fariam parte do coro, mesmo
a desafinar. No final do serão, ela com os olhos brilhantes de tanta emoção, antes
de abrir a porta apareceria à janela a corresponder a toda a paixão. Os dois
iriam percorrer trilhos fazer caminhadas, pelos campos verdejantes e colinas
escarpadas Ao fim do dia, já cansados de andar, sentados debaixo dos carvalhos, no cimo da colina iriam descansar. No horizonte o sol a descer, a
água do mar a brilhar, as gaivotas junto aos mastros a cantar, uma nuvem divina envolta em amor e paz ao longe estavam a avistar, tornando especial aquele lugar.
Pioneiro, um pouco imprudente,
o rapaz apoiava as boas causas, era impulsivo mas valente. A rapariga era
dúvida, ponderação, alguns pontos de interrogação, deslumbrava-se com o coro
que ouvia dentro do coração. Durante o caminho, passou muito tempo a conversar
com a alma do mundo, a ouvir o que tinha a lhe revelar. Quando chegou ao local
indicado, o botão já tinha sido accionado, o moço já tinha embarcado. A
rapariga ficou algum tempo a esperar, na esperança da máquina regressar. Fruto da Criação, junto dos que lá estão, ficaram em comunhão, os pés, as mãos, os sentidos e a razão, bem junto ao coração.
F. M.
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