domingo, 21 de abril de 2013

A nossa freguesia

Morava perto da escola de panelada uma senhora de idade avançada que era conhecida pelo nome de “Calrroa Velha” devido à sua longa idade. No intervalo das aulas íamos a correr beber água à fonte do terreiro do fidalgo. Na vinda, encostadas ao muro do seu quintal, ficávamos a ouvir a anciã que sempre tinha algo para contar. Contava histórias do barba azul que seduzia mulheres belas e jovens para depois as matar. Um sorriso maroto afagava-lhe o rosto, ao pensar que à noite, antes de dormir, iríamos esconder a rosto debaixo das mantas até sentir falta de ar com medo da barba azul. Pois bem, ela dizia ser do seu conhecimento, que no tempo dos carvalhais, o núcleo megalítico do monte de Fornos atraía muitos forasteiros a Fornelos. Chegavam de longe, montavam as tendas e pernoitavam debaixo dos carvalhos seculares. Logo pela manhã iam à fonte do terreiro, para se lavar por fora e por dentro. Traziam água para o café, que tomavam em círculo à volta da fogueira. Depois de apagado o fogo, dirigiam-se à capela da Luz para cumprirem a promessa de rezarem um rosário de três terços à Virgem. Finalmente, seguiam a cantar encosta acima, a visitar as mamoas do núcleo megalítico do monte de Fornos. Chegados ao local ficavam respeitosamente em silêncio, homenageando, cada um à sua maneira, o mundo dos mortos.
II
 Infelizmente, de entre os mais jovens fornelenses, poucos tiveram acesso às mamoas visto terem sido encerradas já alguns anos por tempo indeterminado. A placa colocada num pinheiro manso à entrada, embora esteja em bastante mau estado de conservação devido à ferrugem, ainda se percebe as letras “encerradas por tempo indeterminado”. No entanto é muito proveitoso o passeio ao local pela pureza do ar e pelo contacto com a natureza, que encontramos no seu estado mais puro. Na beleza da paisagem e dos jardins silvestres floridos, de várias paletas de cores, é de salientar a predominância do amarelo dos codessos gigantes que aí cresceram de forma estratégica, para impedir visitas indesejadas ao núcleo. Segundo consta, o motivo de tão apertada vigilância deve-se ao facto da possibilidade de ladrões de túmulos se tentarem apropriar de alguns restos mortais dos nossos antepassados, encontrados pelos arqueólogos ainda em muito bom estado de conservação. Como é sabido esses indivíduos fazem-se passar por arqueólogos e começaram a mover-se em locais como o antigo Egipto. Devido á globalização, actualmente estão espalhados um pouco por todo o mundo. Ao longo dos tempos, testemunhas oculares, em especial os lavradores que durante a noite se deslocavam pelos montes a ir buscar a água das poças para regar os campos, dizem ter testemunhado estrelas cadentes que visitam o núcleo megalítico do monte de Fornos em datas apropriadas. Os que acreditam em divindades, na vida do além, garantem que o núcleo megalítico se encontra fortemente protegido por guardiões mandados para o local por um velho, a que dão o nome de senhor do tempo. A grande maioria dos mortais não os consegue ver a olho nu. Alguns, muito poucos conseguem ver, mas só através dos olhos da alma. Eles existem para promover a paz e harmonia. O seu poder e autoridade são inquestionáveis. No entanto, as opiniões dividem-se e ao certo ninguém sabe. Os mais cépticos afirmam que o encerramento se deveu a fortes suspeitas de que o local estivesse a servir de poiso aos traficantes de estupefacientes. Os utensílios encontrados nas imediações levaram a essa conclusão.
Texto e imagem: Filomena Magalhães

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